terça-feira, 22 de setembro de 2009

Enfim, NANTES

Nantes

6h30 da manhã, após 9h num trem não muito agradável, quente e sem janelas, mas pagando bem barato, surge a plaquinha "Nantes". Chegamos. A essa altura minha mala de rodinha já tinha quebrado e estávamos (eu e Flávio) sofrendo um pouco pra carregar aos coisas. Logo encontramos com um veterano e deixamos as malas na casa dele. Residência só às 18h, então tinhamos que ocupar o dia com as coisas mais imediatas e importantes. Decidimos sentar num bar pra tomar uma Heineken com batata frita e depois fomos no estádio no FCNantes comprar uma camisa oficial do time local. Feito isso e considerando as pausas pra conversar e o ônibus que pegamos pro lado errado, fomos pra casa às 18h30.

O apartamento é bem legal, pra três pessoas. Cozinha e banheiro conjuntos e o quarto com cama, mesa e sala de banho (sim, separada do banheiro) individuais. É razoavelmente espaçoso e confortável, só faltava uma coisa que eu iria descobrir naquela noite do pior jeito possível: um cobertor. Uma ida ao mercado pra comprar as coisas essenciais e estava finalmente abrigado no lugar onde vou passar meu primeiro ano na França: Residence Max Schmitt, no campus da École Centrale de Nantes. Começava uma das semanas mais incríveis da minha vida.

No primeiro dia, após a entrega das chaves, um churrasco organizado pelos veteranos com a famigerada linguiça com a qual eu já me acostumei. Nessa primeira semana, de aula, tivemos só um pouco de francês e uma introdução ao vocabulário de matemática. Só. Agora uma breve passada pelos meus colegas estrangeiros: temos brasileiros a rodo, chineses também (já consegui decorar o nome de dois), 2 mexicanos e 1 chileno muuuuuuuuito loucos, mas muito gente boa, 2 japoneses malucos por bicicleta, um deles fez o caminho Vichy-Nantes de bicicleta e essa semana foi a Paris e voltou, e pra fechar uma menina húngara e 2 russos. Uma galera muito amigável e interessante.

Fora as aulas, tínhamos um caminhão de atividades organizadas pelos veteranos. A primeira foi a visita do centro da cidade com o BDE (Bureau des Elèves - Associação de estudantes responsável pela integração dos alunos). Na foto: Église Saint-Croix. Choveu um pouco, então a visita foi abreviada. Depois fomos com uns caras do BDS (Bureau des Sports) comer crepe. É um dos programas padrão da cidade, tem creperia em todo canto, mas são um pouco caras. Só não tem mais creperia do que Kebab. Por fim, demos um pulo na casa de um veterano brasileiro, grande Benin, pra pegar umas tralhas que foram doadas pelos brasileiros que voltaram esse ano ao Brasil.



Comentário breve e isolado. Num dos dias em que fui ao centro resolver uma parte das enormes burocracias francesas, encontrei uma menina que fazia aniversário no dia do trote da universidade, que sorte não? Coisas idiotas que eu não consigo perder, paguei 2euros pra jogar uma torta na menina.



Em algum lugar no tempo por aqui ocorreu também o Barbecue Brésilien, no qual comemos carne de verdade pela primeira vez e jogamos futebol. Eu, que tinha acabado de contratar o seguro saúde e não tinha nem o número provisório ainda, consegui uma luxação no dedão do pé esquerdo, o mesmo que já tinha quebrado 4 anos atrás. Por hora eu sou o único aluno a passar pela enfermaria e já o fiz 3 vezes. (cometário: acabo de ouvir de um francês: "Fui na enfermaria hoje marcar minha visita médica obrigatória e comentei que morava junto com um brasileiro, Thiago. Ela disse: "Ah, Monsieur Santana Leal? Já o conheço bem."" ¬¬). Enfim, acabei no hospital, mas como dizem por aqui, c'est pas grave!

Até então, éramos ainda só estrangeiros. Foi nessa semana que começaram a chegar os franceses. Meus "colocs" (dois franceses que dividem o ap comigo) chegaram dois dias depois. Jérémy e Adrian, dois caras bem tranquilos e organizados, parece que dei sorte. Agora a promotion estava completa: 330 alunos de engenharia, dos quais uns 12% estrangeiros. Começava a rentrée oficial. Tivemos uma cerimônia de recepção, onde tivemos que nos apresentar para toda a promo (tenso hehehe). Ainda não tínhamos aula, só palestras, apresentações e soirées. Era a Semaine d'Intégration, hora de conhecer a galera. Nós brasileiros temos que ter o cuidado de não nos fecharmos em grupos só nossos, é bem fácil ficar aqui sem falar francês. Era a hora de meter a cara e sair puxando papo com os franceses. Pra minha surpresa, deu mais certo do que eu imaginava, eles são bem receptivos, diferente do que eu ouvia no Brasil.

Pausa pra ir ao banheiro e tomar um café.

Soirrée de Parrainage

Ainda na Semaine d'Intégration, tivemos a Soirée de Parrainage.
De início recebemos apenas um formulário meio secreto e mal explicado no qual tínhamos que responder questões de múltipla escolha sobre nós e no fim escolher entre Angelina Jolie, Marlon Brando, um nerd, uma personal trainer ou uma vaca. Mais tarde isso seria usado para escolher nossos parrains (padrinhos). Na verdade os parrains não servem pra nada além de desculpa pra fazer mais festa.

Finalmente chega a Soirée de Parrainage, tão bem explicada quanto o formulário. Chegamos sem saber bem o que devíamos fazer e nos deparamos com vários objetos jogados no chão. Nomes, havia nomes nos objetos. Começou então uma caçada bizonha: 330 pessoas buscando 1 objeto entre 330. Lá fui atrás do meu. Só não tinha parado pra pensar ainda no passo seguinte, achei uma travesseiro com o meu nome...e? Esse objeto era um enigma para que eu pudesse encontrar o meu parrain. No meu caso era um travesseiro, oreilleur em francês, que fazia um trocadilho com "O" Reillé, ou "O" riscado, em português. Lá está, devia achar alguém com um O riscado. Levei quase 1h pra entender o enigma e achar a pessoa, mas achei. Houve um pequeno engano e acabei com 2 parrains e uma co-fillote (co-afilhada). Por mim, ótimo, mais gente pra enturmar. Depois disso, mais um tradicional churrasco com a maldita da linguiça e voltei pra casa morrendo de sono, já faz mais de 2 semanas que eu não durmo mais de 5h.


Aula Trote

Quinta-feira chegando, já tinha meu material de estudo em mãos, minha polycopies (apostilas de aula), meu cartão magnético pras portas e minha carteira de estudante. Tudo pronto pra começar a tão "inesperada" aula trote. Lógico que eu cheguei atrasado e perdi a aula, entrei junto com a galera do trote. Tivemos apresentações do BDE, BDS e BDA (Bureau des Arts) e da Fanfrale (um grupo de música da École, você vai ouvir falar bastante da Fanfrale por aqui). Ah lógico, quase esqueci, cada grupo que entrava recebia um Allouete. É uma brincadeira extremamente difundida por aqui, baseada numa canção infantil onde o narrador tira partes do corpo de uma criança, como fazemos com nossos sobrinhos ao brincar de tirar o nariz e as orelhas e guardar no bolso. A parte triste é que eles corromperam a linda cantiga infantil substituindo partes do corpo por peças de roupa. Sim, eles vão até o fim e fazem isso o tempo todo. Enfim....

Semana terminando e eu estava impressionado com a quantidade de tradições que tem a École e com a receptivadade dos veteranos. É incrível o trabalho que eles têm pra organizar eventos de integração e como eles são abertos e sempre dispostos a nos ajudar, bem diferente do que vemos no Brasil =/
Nessa semana conheci um pouco da cidade, bastante da École, fui a festas e eventos de integração todos os dias, cada um com um tema diferente e agora sim podia dizer com toda a certeza que estava muito satisfeito de ter conseguido vir parar nesse lugar. E a integração estava só começando...

Fim de post, hora da preparação para o WEI (Weekend d'Intégration). O evento mais esperado da rentrée: 3 dias numa praia espetacular num lugar secreto. Tão secreto que nem depois de chegarmos nós sabíamos onde estávamos (e olha que tínhamos GPS).

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Grenoble - primeira fase

Sexta-feira:
Brasília - "Atenção, você vai viajar domingo!!!"
Thiago - "PORRA, COMO ASSIM!?!!?"
Começa a correria: 3 dias pra ir a Teresópolis, Petrópolis e arrumar as malas. Sim, eu consegui colocar 61kg de bagagem em duas malas de 23kg e é por isso que eu faço engenharia =P
E vamosimbora...

Grenoble

Após 22h de viagem de avião (900km/h LOL), TGV (300km/h lol), trem (100km/h ¬¬) e taxi (30km/h...) eis que surge Thiago Leal a pé com 61kg de bagagem nas costas (2h/km) no accueil da Residence Ouest, no campus da Universidade de Stendhal em Grenoble. Largadas as malas no meu quarto fui caminhar pela cidade e aproveitar o sol das 19h30. Foi então que me dei conta de que a cidade estava fechada, claro, eu estava numa cidade universitária em férias, por que alguma coisa estaria aberta??? Maravilha, passei então 2 dias sozinho e sem dar notícias de que tinha chegado bem. Foi um pouco estressante, mas eu sobrevivi.
Enfim, ao que interessa. Foi aqui que fiz 3 semanas de curso de francês para estrangeiros. Fiquei numa sala com mais 1 brasileiro, 2 turcos e 7 chineses. A experiência de viver numa residência com pessoas do mundo todo falando francês commençait a me faire plaisir. É realmente incrível. Coisas do tipo: toctoc, quem é? Uma italiana que eu nunca ví convidando o corredor inteiro pro aniversário de um alemão. Conheci gente até da Bosnia-Herzegovina e Guinébissau, países que eu sempre conquistava no WAR e que já foram meu endereço no profile do ICQ. Aprendi palavrões em italiano, algumas palavras em alemão, um pouco de chinês e também a escrever Mohamed em árabe. Ah sim, aprendi um pouco de francês também.
Bem, de curso mesmo eram só 4h por dia, as outras 20h eram lotadas de atividades organizadas pela comissão de eventos (3 garotas que pareciam ter vindo uma fazenda de café regado com redbull). Entre as atividades, campeonato de futebol, bocha, a Soirée Internacionale (onde nós fazíamos os shows), a Soirée des Adieux e os passeios matinais que eu perdi porque meu celular não foi capaz de vencer meu sono e o fuso horário de 5h.

Campeonato de futebol - regra de última hora: proibido time de brasileiros, porque eram 3 (sim, bizarro, eu acabara de descobrir que tinha mais brasileiro que chinês). Meu time acabou ficando com 2 cariocas, 2 paulistas, 2 alemães, 1 escocês, 2 turcos e 2 italianos. Ficamos em segundo e ganhamos uma medalha comestível.

Soirée Internacionale - destaque para o rapaz que virou o JackJohnson, a peça que não fez sentido nenhum pra mim, minhas participações especiais na peça dos sons, Parabéns pra Você e, é claro, Ça Fais Rire Les Oiseaux, música bizarra interpretada pelas 3 garotas.


Soirée des Adieux - música, nada de especial a comentar.

Bois Français (vulgo "lago") - o lugar mais lindo que eu conheci em Grenoble. Trata-se de um lago no pé das belíssimas montanhas que circundam a cidaee, também conhecidas como Alpes. Uma paisagem maravilhosa e relaxante que só existe no verão. No inverno o lago congela e é fechado ao público. Aproveitei para tirar algumas das fotos mais sensacionais que eu já tirei. A primeira é o atual papel de parede do meu computador.




Organizamos também um luau e um churrasco brasileiro com carne francesa. O luau foi muito bom, mas o churrasco, meu amigo, que merda. Eramos mais de 30 esfomeados. Quando chegamos ao local do churrasco nos mostram uma churrasqueira de 50cm de diâmetro e dois sacos de uma linguiça horrível e sem gosto que, infelizmente, eu já me acostumei a comer. A carne até que era boa, mas quase perdi um braço na briga por uma fatia. Mas o que vale é a diversão, já que somos todos engenheiros já acostumados
a viver sem comer e dormir.

E por aqui acaba o primeiro capítulo da história. Deixo pra trás minha morada provisória, onde passei 3 semanas apenas com uma faca e uma colher, comendo pão com geléia e queijo brie e bebendo suco de laranja com chocolate lindt pra sobremesa. Ê vida mais ou menos =P
Volto lá nas férias de inverno, pra rever a galera do curso e esquiar nos Alpes Grenobleanos, podem apostar. Mas agora é hora de juntar os 61kg e partir rumo ao destino final: Nantes